Mulher, mãe e cientista: o que ainda falta para as pesquisadoras chegarem ao topo?

Implementado no dia 11 de fevereiro pela ONU, o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência relembra aquelas que fizeram história no caminho do conhecimento, mesmo diante de cenários marcadamente machistas. Ada Lovelace, a primeira programadora de computadores; Marie Curie, autora da descoberta dos elementos rádio e polônio; Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil e uma das responsáveis pelo Plano Hidrelétrico do Paraná são alguns nomes de destaque. 

Em comemoração, pesquisadoras da USP refletem sobre os avanços e dificuldades de se produzir ciência sendo mulher, mãe, dona de casa, esposa, e tantos outros papéis tidos como femininos na sociedade. “A data serve para trazer a lembrança e chamar a atenção da população. Se conseguirmos alcançar uma ou duas meninas, já fizemos nosso trabalho”, afirma Susana Inés Torresi, pró-reitora adjunta de Pesquisa da USP.

Para Michelle Barão, pós-doutoranda em Farmácia na USP, a data possibilita refletir sobre as diferentes oportunidades dadas para homens e mulheres em diferentes áreas. “Apesar da ciência ser um campo em que sua produção transparece isenção dos sujeitos que a fazem e certo distanciamento para não interferir nos resultados, conclusões e achados, ainda encontramos falta de oportunidades para as mulheres, cerceamento daquelas que engravidam e têm filhos, e condutas machistas que menosprezam a inteligência e potencialidades de cientistas,  pesquisadoras, professoras e estudantes. Vemos menos mulheres nos cargos mais altos da produção científica. Precisamos incentivá-las na construção da ciência, com debates e políticas que minimizem cada vez mais essas questões”, afirma a pesquisadora.

Equilibrar demandas familiares

Durante sua formação em Ciências Químicas, Susana se deparou com a redução do número de mulheres de acordo com o avanço na carreira acadêmica. “Ao discutir gênero na ciência, você não pode deixar de considerar questões como a maternidade”, afirma Susana. “Quando se indica o nome de alguma mulher, é bastante comum perguntar se ela vai poder, porque tem filhos. Isso não acontece com homens, já que se subentende que outro alguém vai estar cuidando”, complementa.